Giuseppe Di Stefano (Sicília, 24 Julho
1921 — Milão, 3 Março 2008).
Nascido
na província de Catânia, Sicília, em Julho de 1921, Giuseppe di Stefano foi um tenor
italiano que se destacou no cenário lírico internacional no final dos anos
40.
Filho
de um sapateiro siciliano, estudou em colégios jesuítas, ponderando durante
algum tempo seguir uma carreira eclesiástica, e foi aluno do barítono Luigi
Montesanto e de Mariano Stabile. Aos 19 anos foi recrutado para servir
Mussolini no exército fascista, e nesse contexto aproveitava todas as ocasiões
para cantar, sob o pseudónimo de Nino Florio. Acabou por desertar para a Suíça
neutral em 1943, e ganhou fama a cantar nas emissões da Rádio Suíça.
No
final da Grande Guerra, Di Stefano regressou a Itália, onde se estreou, em
1946, no Reggio Emilia, interpretando Des Grieux da ópera “Manon Lescaut”, de
Jules Massenet. Em 1947 estreou-se no Teatro alla Scala de Milão e, em 1948, no
Metropolitan de Nova Iorque, com "Rigoletto". Foi também em 1947 que
se iniciou o seu notável percurso de gravações para a editora EMI. Nesta altura
gravou também um vasto repertório de canções Napolitanas e outras canções
ligeiras italianas, e algumas destas gravações são ainda hoje consideradas das
melhores no seu género.
Di
Stefano notabilizou-se pela beleza da sua voz, de timbre aveludado e
sonoridade suave, e pela sua dicção exemplar, a que se juntavam uma forte
personalidade, uma entrega marcante e a intensa carga dramática
que imprimia aos seus papéis. O seu charme, espontaneidade e sinceridade
emocional conquistavam auditórios repletos, e a dedicação e vitalidade com
que cantava e representava eram evidentes. O seu tom e timbre frontais,
carregados do calor mediterrânico, permitiam-lhe que todas as suas palavras
fossem facilmente percebidas.
Foi
por isto considerado o parceiro ideal de uma outra grande cantora/actriz da
época, Maria Callas. As suas interpretações mais conhecidas aconteceram ao lado
desta cantora, com quem formou um famoso par operático, e com quem manteve,
durante algum tempo, um relacionamento amoroso. Juntos gravaram um total de 10
óperas completas.
Entretanto,
Di Stefano actuou com as mais famosas cantoras de sua geração, tais como Renata
Tebaldi e Leontyne Price, tendo sido extremamente versátil e prolífico enquanto
durou o seu apogeu no canto lírico. Interpretou variados papéis, nomeadamente
das óperas:
-
Lucia di Lammermoor de Donizetti (Edgardo)
- I Pagliacci de Leoncavallo (Canio)
- Tosca de Puccini (Mario Cavaradossi)
- La Bohéme de Puccini
- La Traviata de Verdi (Alfredo)
- La Forza del Destino de Verdi (Alvaro)
- I Puritani de Bellini
- Cavalleria Rusticana de Pietro Mascagni
- Manon Lescaut de Jules Massenet (Des
Grieux)
- Un Ballo in Maschera de Verdi
- Rigoletto de Verdi
- Aida de Verdi
Trabalhou
com grandes maestros como Herbert von Karajan (1908-1989) e lotou salas em
diversos países, como o Brasil, Itália, Estados Unidos, México, Inglaterra,
Áustria e Escócia. Só no Teatro alla Scala de Milão interpretou 26 papéis.
A
nível pessoal, Di Stefano era tão apaixonado, entusiasmado e obstinado como no
palco, e fascinava-se com a óbvia aura de machismo que o revestia. Era bastante
ambicioso e ansiava todas as oportunidades de tirar vantagens financeiras do
seu talento; era visto como um rebelde ganancioso e pouco disciplinado.
O
apogeu da sua fama, nos anos 50, coincidiu também com o início da sua
decadência no início dos 60, quando a sua voz começou a perder a flexibilidade
e suavidade que a caracterizavam, provavelmente devido a alguma indisciplina e
desleixo em relação à própria carreira. Para o seu declínio vocal pode também
ter contribuído, a partir dessa altura, a inclusão de papéis para tenor
lírico-spinto e até dramático no seu repertório, como por exemplo o papel de
Calaf na ópera “Turandot”, papéis esses não adequados à sua voz essencialmente
lírica.
Esta
má gestão a nível do repertório, e o revelar de algumas lacunas técnicas na sua
abordagem vocal, encurtaram inevitavelmente a carreira do tenor: a quase
ausência de passaggio nas suas frases, uma produção do registo mais agudo
demasiado aberta e gritada, uma abordagem aspirada dos pianissimo, etc.,
contribuíram para a deterioração da sua voz. Di Stefano, enquanto generoso
artista que era, deu demasiado, e demasiado cedo. Em meados dos anos 60, Di
Stefano avistava já o final da sua carreira operática; com 40 e poucos anos, o
seu vigor encontrava-se extinto.
Nos
anos 70 voltou imprudentemente aos palcos para uma tournée de cerca de dois
anos, juntamente com Maria Callas, e foi nesta altura que a relação entre ambos
se estendeu além do profissional. Mas o estado vocal desgastado das duas vozes
era então notório, e a tournée, embora recebida com agrado pelo público, não
apresentou conquistas artísticas, e revelou abertamente os estragos lastimosos
que os dois grandes cantores tinham feito às suas vozes.
Esta
tournée desastrosa conferiu um fim triste às suas carreiras profissionais. No
entanto, Di Stefano regressou ainda aos palcos para interpretar papéis menores,
tendo a sua última performance acontecido em Roma em 1992.
Apesar
de, nos últimos anos, a decadência das suas interpretações ter manchado o seu
percurso, não existem dúvidas de que Di Stefano foi um dos mais excelentes
tenores a emergir do período pós 2ª Grande Guerra. Rudolf Bing, um dos
directores do Metropolitan em
Nova Iorque, afirmou que, não fosse a sua falta de
auto-disciplina, a sua carreira poderia ter ficado para a história, ao lado da
de Caruso.
Em
Novembro de 2004, Di Stefano sofreu golpes graves na cabeça aquando de um
assalto à sua casa em Diani (Quénia), que o deixaram incapacitado; um mês após
o incidente, Di Stefano entrou em coma e permaneceu neste estado durante mais
de 3 anos. Acabou por falecer em Milão, a 3 de Março de 2008.