quinta-feira, 12 de março de 2015

BIOGRAFIA – Giuseppe di Stefano (1921-2008)


Giuseppe Di Stefano (Sicília, 24 Julho 1921 — Milão, 3 Março 2008).

Nascido na província de Catânia, Sicília, em Julho de 1921, Giuseppe di Stefano foi um tenor italiano que se destacou no cenário lírico internacional no final dos anos 40.

Filho de um sapateiro siciliano, estudou em colégios jesuítas, ponderando durante algum tempo seguir uma carreira eclesiástica, e foi aluno do barítono Luigi Montesanto e de Mariano Stabile. Aos 19 anos foi recrutado para servir Mussolini no exército fascista, e nesse contexto aproveitava todas as ocasiões para cantar, sob o pseudónimo de Nino Florio. Acabou por desertar para a Suíça neutral em 1943, e ganhou fama a cantar nas emissões da Rádio Suíça.

No final da Grande Guerra, Di Stefano regressou a Itália, onde se estreou, em 1946, no Reggio Emilia, interpretando Des Grieux da ópera “Manon Lescaut”, de Jules Massenet. Em 1947 estreou-se no Teatro alla Scala de Milão e, em 1948, no Metropolitan de Nova Iorque, com "Rigoletto". Foi também em 1947 que se iniciou o seu notável percurso de gravações para a editora EMI. Nesta altura gravou também um vasto repertório de canções Napolitanas e outras canções ligeiras italianas, e algumas destas gravações são ainda hoje consideradas das melhores no seu género.

Di Stefano notabilizou-se pela beleza da sua voz, de timbre aveludado e sonoridade suave, e pela sua dicção exemplar, a que se juntavam uma forte personalidade, uma entrega marcante e a intensa carga dramática que imprimia aos seus papéis. O seu charme, espontaneidade e sinceridade emocional conquistavam auditórios repletos, e a dedicação e vitalidade com que cantava e representava eram evidentes. O seu tom e timbre frontais, carregados do calor mediterrânico, permitiam-lhe que todas as suas palavras fossem facilmente percebidas.

Foi por isto considerado o parceiro ideal de uma outra grande cantora/actriz da época, Maria Callas. As suas interpretações mais conhecidas aconteceram ao lado desta cantora, com quem formou um famoso par operático, e com quem manteve, durante algum tempo, um relacionamento amoroso. Juntos gravaram um total de 10 óperas completas.

Entretanto, Di Stefano actuou com as mais famosas cantoras de sua geração, tais como Renata Tebaldi e Leontyne Price, tendo sido extremamente versátil e prolífico enquanto durou o seu apogeu no canto lírico. Interpretou variados papéis, nomeadamente das óperas:
- Lucia di Lammermoor de Donizetti (Edgardo)
- I Pagliacci de Leoncavallo (Canio)
- Tosca de Puccini (Mario Cavaradossi)
- La Bohéme de Puccini
- La Traviata de Verdi (Alfredo)
- La Forza del Destino de Verdi (Alvaro)
- I Puritani de Bellini
- Cavalleria Rusticana de Pietro Mascagni
- Manon Lescaut de Jules Massenet (Des Grieux)
- Un Ballo in Maschera de Verdi
- Rigoletto de Verdi
- Aida de Verdi

Trabalhou com grandes maestros como Herbert von Karajan (1908-1989) e lotou salas em diversos países, como o Brasil, Itália, Estados Unidos, México, Inglaterra, Áustria e Escócia. Só no Teatro alla Scala de Milão interpretou 26 papéis.

A nível pessoal, Di Stefano era tão apaixonado, entusiasmado e obstinado como no palco, e fascinava-se com a óbvia aura de machismo que o revestia. Era bastante ambicioso e ansiava todas as oportunidades de tirar vantagens financeiras do seu talento; era visto como um rebelde ganancioso e pouco disciplinado.

O apogeu da sua fama, nos anos 50, coincidiu também com o início da sua decadência no início dos 60, quando a sua voz começou a perder a flexibilidade e suavidade que a caracterizavam, provavelmente devido a alguma indisciplina e desleixo em relação à própria carreira. Para o seu declínio vocal pode também ter contribuído, a partir dessa altura, a inclusão de papéis para tenor lírico-spinto e até dramático no seu repertório, como por exemplo o papel de Calaf na ópera “Turandot”, papéis esses não adequados à sua voz essencialmente lírica.

Esta má gestão a nível do repertório, e o revelar de algumas lacunas técnicas na sua abordagem vocal, encurtaram inevitavelmente a carreira do tenor: a quase ausência de passaggio nas suas frases, uma produção do registo mais agudo demasiado aberta e gritada, uma abordagem aspirada dos pianissimo, etc., contribuíram para a deterioração da sua voz. Di Stefano, enquanto generoso artista que era, deu demasiado, e demasiado cedo. Em meados dos anos 60, Di Stefano avistava já o final da sua carreira operática; com 40 e poucos anos, o seu vigor encontrava-se extinto.

Nos anos 70 voltou imprudentemente aos palcos para uma tournée de cerca de dois anos, juntamente com Maria Callas, e foi nesta altura que a relação entre ambos se estendeu além do profissional. Mas o estado vocal desgastado das duas vozes era então notório, e a tournée, embora recebida com agrado pelo público, não apresentou conquistas artísticas, e revelou abertamente os estragos lastimosos que os dois grandes cantores tinham feito às suas vozes.

Esta tournée desastrosa conferiu um fim triste às suas carreiras profissionais. No entanto, Di Stefano regressou ainda aos palcos para interpretar papéis menores, tendo a sua última performance acontecido em Roma em 1992.

Apesar de, nos últimos anos, a decadência das suas interpretações ter manchado o seu percurso, não existem dúvidas de que Di Stefano foi um dos mais excelentes tenores a emergir do período pós 2ª Grande Guerra. Rudolf Bing, um dos directores do Metropolitan em Nova Iorque, afirmou que, não fosse a sua falta de auto-disciplina, a sua carreira poderia ter ficado para a história, ao lado da de Caruso.

Em Novembro de 2004, Di Stefano sofreu golpes graves na cabeça aquando de um assalto à sua casa em Diani (Quénia), que o deixaram incapacitado; um mês após o incidente, Di Stefano entrou em coma e permaneceu neste estado durante mais de 3 anos. Acabou por falecer em Milão, a 3 de Março de 2008.





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