terça-feira, 21 de abril de 2015

O que ando a OUVIR! #003

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Maurice RAVEL – Chansons

Compositor: Maurice Ravel (1875-1937)
Período: Século XX
Tipologia: Vocal - canções e ciclos de Canções
Intérpretes: Inva Mula, Valérie Millot (sopranos), Claire Brua (mezzo-soprano), Gérard Theruel, Laurent Naouri (barítonos), David Abramovitz (piano).
Edição: Naxos
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O que é... a VOZ? #002


Definição de VOZ: a voz é o som produzido pelo aparelho fonador humano, aparelho esse constituído por vários órgãos com funções principais nos aparelhos respiratório e digestivo. Resumidamente, a sua fisiologia consiste em 3 fases:
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1 – Produção: os músculos expiradores, o diafragma e os pulmões produzem a coluna de ar (expiração) que pressiona a laringe, originando a vibração nas pregas vocais.
2 – Vibração: a laringe, constituída pelas pregas vocais, mucosa endo-laríngea, e vários músculos, ossos, cartilagens e ligamentos, produz o som vibratório fundamental, mais concretamente através da vibração das pregas vocais.
3 – Ressonância: a faringe, o espaço bucal e as cavidades nasais ampliam e modulam o som, que será também articulado e transformado em palavras, por acção dos lábios, língua e mandíbula.

É portanto a expressão sonora do indivíduo, que o nosso ouvido percepciona quando o fluxo de ar expiratório se transforma em som por acção de tecidos que vibram, cavidades que ressoam e estruturas que se movimentam e articulam sons.

A voz é também um instrumento musical privilegiado e universal, que pode executar música a solo ou em grupo, sem ou com acompanhamento de um instrumento ou de uma orquestra, tornando-se assim meio de expressão artística e cultural. Em relação à tessitura, as vozes femininas classificam-se de forma geral em Soprano, Mezzo-Soprano e Contralto, enquanto as masculinas se dividem entre Tenor, Barítono e Baixo.

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É um modo de expressão anterior a qualquer modelo linguístico, mas é simultaneamente origem e instrumento da linguagem. Constitui o suporte material de verbalização do pensamento e da expressão, através da palavra. A voz é também um veículo de ligação do sujeito ao outro, constituindo assim um factor de relação dadas as suas qualidades humanas e artísticas.

Possui uma combinação de características únicas em cada indivíduo, e o som de cada voz pode ser objectivamente analisável e classificável quanto à sua intensidade, altura, ritmo, entoação, etc., e subjectivamente analisável em relação ao timbre e às atitudes e estados de espírito que revela a cada momento.

Através da técnica vocal, é possível controlá-la e aperfeiçoá-la, incrementando a sua qualidade e rendimento sonoro e a sua resistência. Deve ser alvo de cuidados de saúde e higiene vocais, que incluem consultas de rotina esporádicas no otorrinolaringologista, principalmente para os profissionais de voz.

Segundo Dale Carnegie, “É acima de tudo nas inflexões e nos matizes da voz que reside a força expressiva da linguagem humana.”


Para quem nunca espreitou uma laringe ou observou o movimento das pregas vocais através de uma laringoscopia, encontra um vídeo muito giro aqui.  


Algumas Fontes Bibliográficas:

--- CARNEGIE, Dale (1962), Como Falar Facilmente, Porto, Livraria Civilização – Editora.
--- CHAPMAN, Janice L. (2012), Singing and Teaching Singing – a Holistic Approach to Classical Voice, San Diego, Plural Publishing.
--- FERREIRA, Léslie Piccolotto; COSTA, Henrique Olival (2000), Voz Ativa – Falando Sobre o Profissional da Voz, São Paulo, Editora Roca.
--- MARTINS, M. Raquel (1988), Ouvir Falar – Introdução à Fonética do Português, Lisboa, Caminho.
--- MENDES, Ana; GUERREIRO, David; SIMÕES, Marina; MOREIRA, Miriam (2013), Fisiologia da Técnica Vocal, Loures, Lusociência – Edições Técnicas e Científicas, Lda.
--- VIEIRA, Margarida Magalhães (1996), Voz e Relação Educativa, Porto, Edições Afrontamento.

O que ando a LER! #003 – “Voz e Relação Educativa”


canto celeste


de Margarida Magalhães Vieira – Voz e Relação Educativa

Autor: Margarida Magalhães Vieira
Publicação: 1996, Porto
Edição: Edições Afrontamento
Língua: português
Tipologia: Livro Técnico
Categorias: Voz, Técnica Vocal, Comunicação, Educação
Catalogação: ISBN: 9789723603996

Para ler a sinopse e/ou comprar este livro no Wook.pt, clicar aqui


quarta-feira, 15 de abril de 2015

SAÚDE VOCAL #003: Dia Mundial da Voz – 16 de Abril


canto celeste
 Em 1999, surgiu no Brasil a Campanha Nacional da Voz, por iniciativa do Dr. Nédio Steffen, Otorrinolaringologista de Porto Alegre (Brasil). Este médico, enquanto presidia a Sociedade Brasileira de Laringologia e Voz (SBLV), apercebeu-se de lacunas no acesso a informações relacionadas com os problemas vocais, e lançou a Campanha da Voz para alertar, consciencializar e informar a população em geral sobre a importância dos cuidados com a saúde vocal.

Assim aconteceu, em 1999 no Brasil, a 1ª Semana Nacional da Voz, com atendimentos e rastreios gratuitos por todo o país, e também com a realização de palestras sobre a fisiologia da voz, a higiene vocal, as principais doenças da laringe e os respectivos meios de prevenção.

O sucesso da campanha brasileira foi tão grande que outros países decidiram adoptar esta ideia!

Esse trabalho de sensibilização para as necessidades da Voz foi reconhecido pelos mais importantes órgãos da Otorrinolaringologia mundial, como a FederaçãoInternacional das Sociedades de Otorrinolaringologia, a Academia Americana de Otorrinolaringologia e a SociedadeEuropeia de Otorrinolaringologia.

Este reconhecimento gerou a aliança responsável pela homologação do “1º Dia Mundial da Voz”, instituído em 2003, e que desde então se comemora oficialmente a 16 de Abril!

canto celestePortugal, Espanha, Bélgica, Suíça, Itália, Argentina, Chile, Venezuela, Panamá e Estados Unidos participaram logo das duas primeiras edições internacionais da campanha, e mais países aderiram ao evento nos anos seguintes.

Links úteis:

Canto Celeste: artigo sobre Saúde e Higiene Vocal

AUDIOPOEMA #001: “Soneto”, Joaquim Castro Caldas




Soneto (à minha mulher-a-dias que tem a mania que é analfabeta 
mas sabe mais coisas que o primeiro-ministro)

ai maria do alívio se tu soubesses
as pedras que estes passos trazem
quantas cidades aqui me disseram
que as pessoas como tu é que eram

ai maria do alívio se tu imaginasses
as praças que eu enchi de coragem
sem a ajuda de ninguém só de deus
que esse enfim seja quem for lá está

que há uma coisa cá dentro sem nome
que mexe connosco sem dar por isso
e eu não sei se é amor se é enguiço

de outra coisa te prometo sofro muito
de uma doença incurável chamada vida
cuja única cura é um dia ir-me embora

Poema: “Soneto”
Autor: Joaquim Castro Caldas (1956-2008)
Obra: inédito

Voz: Ana Celeste Ferreira
Fotografia: Antonieta Monteiro
Captação e Edição Sonora: Ricardo Caló

AUDIOPOEMA #002: “Poema pouco original do Medo”, Alexandre O’Neill


O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
sim,
a ratos

Poema: “Poema pouco original do Medo”
Autor: Alexandre O’Neill (1924-1986)
Obra: Abandono Vigiado, Guimarães Editores, 1960

Voz: Ana Celeste Ferreira
Fotografia: Ricardo Caló
Captação e Edição Sonora: Ricardo Caló